“O fim da guerra veio ajudar o hip-hop angolano. O povo está com o espírito forte, com vontade de desenvolver e assim o hip-hop em Angola conseguiu ganhar a sua maturidade.”
EDDIE-PIPOCAS: Poderoso mensageiro o porque deste nome que já tem mas de 15 anos de existência?
PODEROSO MENSAGEIRO: Sim 15 anos de existência, vem já desde 1996. Preferi PM pois Deus é grandioso e poderoso. Primeiro “P” de Poderoso e grandioso é a minha relação com a igreja, sempre fui muito religioso. “M” de mensageiro, pois estou aqui para passar a mensagem, é o meu projecto através do Rap.
E.P: O teu rap cresceu aqui em Portugal os teus primeiros passos aqui apesar de seres Angolano de Benguela. Como associas o teu rap como hip-hop Tuga?
P.M: Em Angola sempre tive ligação ao Rap Americano, Angolano, Brasileiro e Português, mas foi quando vim para Portugal que o meu Rap amadureceu, e foi aqui que dei os meus primeiros passos.
E.P: E também começou por ouvir Gabriel O Pensador e Black Company, ou teve outras inspirações?
P.M: Sim, comecei por ouvir Gabriel O Pensador, Black Company, General D, Randy MC. Entre outros artistas. E sempre dei grande atenção e respeitei os rappers como o General D, que mantinham a cultura angolana e tentavam vingá-la na Europa.
E.P: Como qualificas o rap feito em Portugal hoje quem canta de verdade?
P.M: Tive um grau de evolução e aprendi com os rappers portugueses, com aqueles que ainda fazem bom Rap em Portugal. Mas na minha opinião perdeu-se muito o espírito de unidade, de partilhe, de confronto ideológico. Acredito que o hip-hop Tuga vai receber uma nova roupagem agora, como alguns intervenientes da cultura que vão lançar agora cds e são bastante coesos, como os chullage, que constroem algo não só numa perspectiva do eu, mas sim de comunidade, de cultura. Mas o hip-hop Tuga está estagnado, imatura e pobre, em mensagem, unidade e alegria… E também pobre em vendas, afinal é disto que vivemos.
E.P: Quem sustenta o hip-hop tuga?
P.M: Hoje em dia no hip-hop tudo é rotulado, o sustento é feito por todos pelo movimento, que a meu ver é um movimento sínico, pois não há aquela partilha de amizade, mas sim partilha de negócio e featurings (músicas com participações especiais), não havendo nada que sustente de momento o hip-hop Tuga. Não há aquele rapper de nova geração que aparece e rebenta o movimento, não há aqueles artistas que revolucionam pelas suas mensagens, apenas aqueles “bate-boca” e isso não sustenta o movimento. Falta também haver negócio, as trocas de contactos entre rappers, as produtoras, o papel importante da comunicação social, em Portugal não há concorrência de mercado e assim não se vende.
E.P: E sobre o rap angolano que tens a dizer?
P.M: O fim da guerra veio ajudar o hip-hop angolano. O povo está com o espírito forte, com vontade de desenvolver e assim o hip-hop em Angola conseguiu ganhar a sua maturidade. Existem aquelas linhas divisórias entre o comercial, o undergroud, o excêntrico e todos os diferentes artistas se conhecem e há trocas de contactos e experiências e há respeito e confronto de ideias e é isto que faz o movimento. Com a troca de experiências entre os diferentes artistas foi possível criarem um mercado, um negócio que vende. Apenas se peca no sentido da Lírica, que aqui em Portugal tem mais condições e em Angola a comunicação social também é um pouco selectiva. Mas está a crescer e vai num bom caminho.
E.P: O que te move nas causas sócias, porquê esta entrega?
P.M: Eu vivi entre a cidade e os bairros, e eu vivia mesmo na região mediana, e foi complicado pois era julgado por andar com os da cidade e julgado por andar com os dos bairros. Assim a minha filosofia foi sempre tentar perceber o porquê dessa linha divisória, as pessoas dos bairros e das cidades fazem parte de um todo, de uma sociedade. E isto desenvolveu-se eu ganhei bagagem, e com a educação que os meus pais me deram e a religião, fez com que eu desse muito valor ao amor ao próximo, a partilhar, a dividir o que tenho com quem precisa. E quando vim para Portugal, eu comecei a trabalhar nas obras e isso ajudou-me a ver as condições dos imigrantes na sociedade a forma como são rebaixados por vezes e isso fez com que em vez de escrever sobre as minhas festas e diversões, escrevesse em prol da sociedade. E em relação aos bairros eu tento escrever de modo a ser exemplo e lutar pela união.
E.P: Em 2008 R.A.P. (Realidade, Amizade, Prosperidade) qual é o estado desta causa do momento?
P.M: Nesse ano eu visitei muitos bairros sociais e dentro desse movimento eu efectuei um projecto com as Crianças S.O.S de Benguela, com o intuito de dar alegria aquelas crianças de não se sentirem órfãs. Uma imagem como eu presente ali, como um irmão para eles, ajudava-os a ver as coisas de forma mais feliz. Assim criei este projecto com uma edição limitada de 3000 cd’s em que 20% revertia a favor das aldeias S.O.S, para compra de material didáctico. Mas acima de tudo este projecto teve como objectivo sensibilizar a sociedade Angolana para que, independentemente da contribuição do estado, a sociedade comum tem de ter um papel importante no desenvolvimento de Angola, ou seja ser participativo não só nestas causas de angariação de fundos, como simplesmente dando a sua opinião. Uma opinião é um ponto de vista que pode mudar consciências e atitudes. Assim este projecto teve como função sensibilizar as pessoas que com pouco se faz muito.
E.P: Qual é a mensagem que deixas aos leitores do eddie-pipoca.com
P.M: mantenham-se fiéis aos seus ideais, as pessoas que apreciam e seguem o meu trabalho, continuem a faze-lo pois faço questão de manter os meus ideais e filosofias, esperem pelo meu novo projecto que está bom e não saquem pela internet comprem o cd, que trás informação em suporte papel como recordação e documento para as próximas gerações. Queria desejar boa sorte para o teu trabalho, que sei que tem muitos visitantes e como não há dinheiro para outro tipo de comunicação social, são estes meios como o teu trabalho que permitem a divulgação da cultura.
Partilhar
Sem comentários:
Enviar um comentário